No meio do caminho tinha um mapa
O dia 29 novembro do ano passado demarcou a inauguração do Memorial Mãos Negras, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A proposta busca criar um ambiente de memória e reflexão ao sublinhar a participação de crianças, mulheres e homens negros escravizados que trabalharam na construção do espaço no início do século XIX.
De acordo com o professor e babalawô Ivanir dos Santos, trata-se de “um passo extremamente importante para o reconhecimento das histórias e memórias de pessoas escravizadas, que foram silenciadas por décadas. Assim, o Jardim Botânico cumpre uma ação social, política e de reparação voltada para promoção da história nacional e da cultura negra brasileira1”
A iniciativa — que nos lembra da edição em que abordamos a importância da dimensão espacial na valorização da herança africana no Brasil2 — apresenta um detalhe que nos saltou aos olhos: bem no meio do memorial há um mapa do continente africano.
Fonte: Ester Santos/Jardim Botânico
A inspiração é o Mapa da África de Guilherme Blaeu3 (1571-1638) considerado, por pesquisadores da área, o primeiro a representar com certa precisão os contornos de África:
Fonte: (MARQUES, A. H. (1969). Introdução. In Nova História da Expansão do Colonialismo europeu – O Imperialismo em África (1890-1930). Lisboa. Editora Estampa. 1969.
Bom, você sabe, essa é a deixa para a gente viajar através desse mapa e suas conexões:
Mapas: entre narrativas pela dominação e dissertativas pela contestação
O Baobá na paisagem africana: singularidades de uma conjugação entre natural e artificial
Geografia, cartografia e o Brasil africano: algumas representações
África “pré-colonial” e “colonial”: choques religiosos e suas influências nos trajes desses períodos
Racismo no Brasil: imaginário e materialidade da discriminação
Representação do Espaço no Notícias do Espaço
Abaixo, outras vezes em que as representações espaciais estiveram no centro do debate:
Pensamento de Milton Santos sobre a questão do negro silenciada pela academia
O geógrafo Tadeu Batista Alves, em sua dissertação Milton Santos: Narrativas em construção sobre ser negro no Brasil ao final do século XX, defendida junto ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, sobre a orientação do professor Jaime Tadeu Oliva, ressalta como pensamento do negro foi silenciada pela academia. Para ler, mas sobre o assunto, basta clicar aqui.
Adiante, algumas outras vezes em que falamos sobre Milton Santos:
Anteriormente em Notícias do Espaço:
Ah, a temática da representação também “deu as caras” na nossa edição anterior:
Muito obrigado por nos acompanhar.
Até a próxima!
Créditos:
Pesquisa e desenvolvimento: Higor Mozart e Gabriel Arquette | Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2024) | Coordenação: Higor Mozart
Por falar nisso, caso se interesse, veja também: Do nosso chão: sambistas de Porto Alegre resgatam sua ancestralidade em espaços de origem negra
Outras possíveis grafias: Guilielmo Blaeuw e Willem Janszoon Blaeu.