Notícias Olímpicas
Entre tsukaharas e quedas; ondas e flips; pontos e dores; gritos e lamentos; memes e lágrimas; ippons e glórias; gols e decepções; cenas históricas e muito mais (ufa!), rolaram vááárias notícias do espaço nos Jogos Olímpicos de Paris.
Triatlo quase vira duatlo
O poluído Rio Sena esteve no centro das atenções. A situação foi tão grave que o triatlo, além de ter sido adiado, quase virou duatlo. A equipe da Bélgica desistiu de participar da modalidade após uma das atletas, Claire Michel, ir para hospital por conta de bactéria contraída depois de mergulhar no rio. Vários esportistas passaram mal. 1.
Quente! Muito quente!
Provavelmente você deve ter visto algum atleta reclamando do forte calor lá em Paris. Isso nos lembra que a capital francesa ajuda a batizar um acordo sobre…o clima. Mas será que as metas desse acordo são reais? Na visão de Luiz Marques, professor da Unicamp, esta é a resposta2.
1ª medalha da Equipe Olímpica de Refugiados
A boxeadora Cindy Ngamba sagrou-se a primeira medalhista da história da equipe olímpica dos refugiados. A atleta não pôde representar as cores de sua terra natal, Camarões, porque lá, infelizmente, a homossexualidade é criminalizada. Uma alternativa seria lutar sob bandeira da Grã-Bretanha, mas, apesar de morar lá há 15 anos, Cindy Ngamba teve sua cidadania negada. A Equipe Olímpica dos Refugiados, composta por quase 40 atletas, representou mais de 100 milhões de pessoas deslocadas no mundo3.
“Eu sou uma mulher”
A boxeadora argelina Imane Khelif, campeã olímpica, foi submetida a uma série de situações repugnantes em meio a um mar de preconceitos e desinformações ligadas, sobretudo, à extrema direita.
Mulheres no esporte e em outras carreiras
A velocista Flavia Maria de Lima disputou suas provas sob a ameaça de perder a guarda de sua filha. Seu ex-companheiro, que a acusa de abandono parental, incluiu no processo de divórcio informações sobre as competições que ela disputa:
“Para me desestabilizar, como se fosse um crime ter uma carreira, como se fosse um crime uma mulher ter uma profissão, e como se fosse um crime uma mãe ter que viajar para trabalhar”, argumenta Flávia (Fonte: Carta Capital). 4
“Libertem as mulheres afegãs”
Essa foi a mensagem exibida por Manizha Talash, nascida no Afeganistão, onde é proibido que mulheres dancem. Para seguir seu sonho de competir no breaking, ela teve que fugir de seu país e integrou o Time Olímpico de Refugiados. Talash foi desclassificada em função de controversa regra que veda manifestações políticas, raciais e religiosas nas áreas olímpicas. A eliminação veio dois dias depois de integrantes da ONU enviarem uma carta ao Comitê Olímpico Internacional; na mensagem reivindica-se postura decisiva dos órgãos esportivos nacionais e internacionais contra as proibições impostas pelo Talibã à participação de mulheres e meninas do Afeganistão em atividades esportivas.
Foto: Ezra Shaw / Getty Images
“Quando começamos era proibido”
As glórias da seleção brasileira, vice-campeã olímpica, têm relação direta com mulheres pioneiras do futebol no país, conforme retratado no documentário As Primeiras, de Adriana Yañez5.
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1ª medalha do continente africano na ginástica artística
Com o ouro nas barras assimétricas, a ginasta Kaylia Nemour, da Argélia, garantiu a primeira medalha para um país africano na história da modalidade.
Israel e Rússia: dois pesos, duas medidas:
O perfil Copa Além da Copa elaborou uma série de materiais sobre as Olimpíadas. Um deles chama atenção para a participação de Israel e a punição imposta à Rússia6.
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O primeiro boxeador palestino nas Olimpíadas
O boxeador sueco Nebil Ibrahim, após sair vitorioso da luta, ergueu a mão do seu oponente, o palestino Wassem Abu Sal, e declarou:
"Uma honra enfrentar o primeiro boxeador palestino nas Olimpíadas. Ele representa não apenas seu povo, mas todas as nações oprimidas do mundo" (Fonte: Federação Árabe Palestina)
Foto: Federação Árabe Palestina
Na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, Wassem Abu Sal - que foi o porta bandeiras-palestino - trajou uma camisa branca com desenhos de caças e bombas na direção de uma criança que jogava futebol. Ramos de oliveira completavam o desenho.
Sem boxe?
Talvez não assistamos mais lutas de boxe nas Olimpíadas de Los Angeles 2028. O motivo é a disputa travada entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Associação Internacional de Boxe, presidida por Umar Kremlev (russo ligado a Vladimir Putin).
Surfe e colonialismo
A famosa imagem em que o fotógrafo Jerome Brouillet capta Gabriel Medina “voando” com sua prancha foi registrada em Teahupo’o, no Taiti. Trata-se de uma das ilhas - a maior delas - integrantes da Polinésia Francesa, coletividade ultramarina da França situada na Oceania. Para abrigar as competições de surfe, o governo francês realizou obras que geraram protestos de taitianos insatisfeitos com prejuízos ecológicos e religiosos. Este acontecimento sublinha as chagas do colonialismo francês. Na mesma direção, vale lembrar que Teddy Riner e Marie-José Pérec, responsáveis por acender a tocha olímpica, são nascidos em Guadalupe, outro departamento ultramarino do país sede das Olimpíadas.
Colonialismo nuclear
Em 1974, testes nucleares realizados pela França deixaram uma nuvem radioativa no cenário paradisíaco das provas de surfe. Até hoje os dias atuais os aldeões do Taiti sentem os efeitos.
Fronteira entre Brasil e França
Evidenciando questões sobre colonialismo, vale lembrar da Guiana Francesa, departamento ultramarino da França na América do Sul, que faz fronteira com o Amapá.
Massacre no Sena
No desfile de barcos na cerimônia de abertura, a delegação da Argélia - antiga colônia francesa - atirou flores no rio. Essa foi a forma de homenagear mártires argelinos arremessados, naquelas mesmas águas, em 17 de outubro de 1961, por policiais parisienses. Na ocasião, quando da Guerra de Independência da Argélia, manifestantes protestavam contra o toque de recolher determinado pelo governo francês aos nascidos no país do Norte da África. Há somente duas décadas que a França admitiu a existência do massacre.
Massacre na República Democrática do Congo
Uma mão que veda a boca. Dois dedos na têmpora. Com esse gesto, Marcelat Sakobi, boxeadora da República Democrática do Congo, chamou atenção para o massacre em curso em seu país. Protesto que já havia sido realizado, também, por jogadores de futebol na Copa Africana.
A boxeadora Marcelat Sakobi em protesto contra genocídio na República Democrática do Congo — Foto: Richard Pelham/Getty Images
A estreia do breakdance e o espaço urbano
Mais acima falamos do breakdance que fez sua estreia7 nas Olimpíadas e se juntou a outros esportes urbanos como o Ciclismo BMX Freestyle e o Skate (street e park). Mas, afinal, quais as relações entre estes esportes e a cidade? Na última edição do podcast Ciência ao Pé do Ouvido, a jornalista Ítana Santos e o professor Ricardo Ricci Uvinha exploraram o assunto. Bora ouvir!
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Gentrificação
Outra temática, também associada ao espaço urbano e aos Jogos Olímpicos, é a gentrificação. Para refletir sobre esse tema, separamos os textos abaixo:
Um geógrafo e um velocista
Antes das Olimpíadas, Noah Lyles, estadunidense campeão dos 100m, irritou jogadores de basquete com a declaração abaixo:
- Tenho que ver as finais da NBA e vê-los se chamando de "Campeões do Mundo". Campeões mundiais do quê? Dos Estados Unidos? Não me leve a mal, eu amo os EUA, às vezes, mas não somos o mundo. Aqui (no Mundial de Atletismo) sim somos o mundo. Aqui todos os países estão representados, lutando para ganhar (Fonte: GE)
A fala de Noah Lyles nos lembrou do saudoso geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves que, na apresentação da edição em português do livro “A Colonialidade do Saber, mandou essa:
A COLONIALIDADE DO SABER: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas Latino-americanas, livro organizado por Edgardo Lander, é um marco nas ciências sociais. Tomo o cuidado de evitar dizer que se trata de um marco das ciências sociais latino-americanas para não reproduzir a geopolítica do conhecimento que, sob o eurocentrismo, caracteriza o conhecimento produzido fora dos centros hegemônicos e escrito em outras línguas não-hegemônicas como saberes locais ou regionais. É como se houvesse um saber atópico, um saber-de-lugar-nenhum, que se quer universal, e capaz de dizer quais saberes são locais ou regionais. Assim como cada um, de cada lugar do mundo, tem de assinalar em seu endereço eletrônico o país onde mora e de onde fala –.br (Brasil) ou .ve (Venezuela); ou .mx (México) ou .cu (Cuba) ou .ar (Argentina) ou .co (Colômbia )– aquele que fala a partir dos EUA não precisa apor .us ao seu endereço e, assim, é como se falasse de lugar-nenhum tornando familiar que cada qual se veja, sempre, de um lugar determinado, enquanto haveria aqueles que falam como se fossem do mundo e não de nenhuma parte específica. No Brasil, há o nordestino, o sulista e o nortista, mas não há o sudestino, nem o centro-oestista. Afinal, o sudeste é o centro e, como tal, não é parte. É o todo! E a melhor dominação, sabemos, é aquela que, naturalizada, não aparece como tal. Já houve época em que se opôs o verbo à ação. Todavia, a palavra, se verbo, indica ação.
Para ler o livro todo (que é ótimo), é só clicar aqui.
1º ouro olímpico de Botswana
O marrento Noah Lyles, de quem falamos acima, era um dos favoritos na prova dos 200m. Mas, quem levou mesmo, foi Letsile Tebogo que, além do ouro, escreveu seu nome na história de Botswana, ao se tornar o primeiro campeão olímpico de seu país.
3º temporada
Ha tantas outras geografias relacionadas às Olimpíadas, maaas precisamos terminar essa edição. Para você que já está sentindo falta, não deixe de acompanhar as Paralimpíadas! Ah, e antes que nos esqueçamos: seja bem-vindo(a) à terceira temporada do Notícias do Espaço. A nossa equipe agora conta com um novo tripulante, o Gabriel Arquette, estudante do 2º ano do Curso Técnico em Informática integrado ao Ensino Médio. Aproveitamos e agradecemos demais as contribuições do Gabriel Merigui.
Começo, meio e começo
Os Jogos Olímpicos sublinham um dos ensinamentos de Antônio Nego Bispo, segundo quem, não existe “começo, meio e fim”, mas sim, começo, meio e começo. Agora, após Paris, começa-se um novo ciclo de preparação dos(as) atletas. Em tal processo, nunca é demais reforçar, as políticas públicas direcionadas ao esporte e a outros setores assumem vultuosa importância 8.
Dito isto, deixamos um até logo com a imagem que registra a magistral Rebeca Andrade - maior medalhista olímpica brasileira - no início de sua dourada prova no solo. Ela é, porque outras foram. Ela é, e outras hão de vir; sejam medalhistas ou não.
Imagem: CazeTV/(COB).
Créditos:
Pesquisa e desenvolvimento: Higor Mozart e Gabriel Arquette | Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2024) | Coordenação: Higor Mozart
Também falamos sobre cursos hídricos na edição “Ouve o barulho do rio”.
Edições em que tratamos de questões climáticas: “No inverno não é sempre igual”; “Além do El Niño” e “Outra onda de calor e uma sucessão de recordes indesejados”. De maneira complementar, mencionamos as publicações em que o antropoceno esteve na pauta: “The Eras Tour” e “The Eras Tour II”.
Mais sobre o assunto: Notícias da redação: trabalho de cuidado.
Em edição especial sobre a copa do mundo, reunimos informações sobre o futebol feminino no país: Era como se o Brasil gritasse à beira do campo.
Na publicação “Tampouco brilhante” abordamos as relações entre e futebol e temas de interesse geográfico.
Mal chegou e já saiu: o breaking está fora do programa olímpico de Los Angeles 2028.
É fundamental que, na formulação de tais políticas, sejam considerados recortes de classe, gênero, raça, região, etc.