No inverno não é sempre igual
Super El Niño, emergência climática, racismo ambiental, questões de gênero e capitalismo
São muitas as músicas que trazem metáforas climáticas. Muito provavelmente a essa altura você já se lembrou de ao menos uma. Quem sabe d’As Quatro Estações de Sandy & Junior…Quer ver? Se a gente cantar assim: “no outono é sempre igual…”, apostamos que mentalmente você vai continuar a cantarolar. Vai, pode admitir. Aliás, não sei se você sabe, mas uma curiosidade é que o álbum em que essa música está presente trazia um encarte com uma capa diferente para cada estação do ano! Sim, é muita tecnologia! Sim, ouvíamos música através de mídias físicas. Havia até a tradição entre os fãs da dupla de mudar a capa a cada nova estação.
Outra música bem conhecida é Primavera em que Tim Maia declara: “Quando o inverno chegar / Eu quero estar junto a ti”. E não é que a estação fria chegou mesmo? No último dia 21 de junho rolou, no Hemisfério Sul, o solstício de Inverno (espero que você, fã de Sandy & Junior, já tenha trocado a capa de seu cd!). Só que dessa vez está previsto algo diferente.
Bora entender essa história? Pra isso, primeiro vamos ver informações sobre o El Niño, fenômeno natural que promove o aquecimento anormal e persistente das águas do Pacífico na região equatorial e aparece de tempos em tempos. E você com isso? Olha, são várias as questões que podem impactar diretamente a sua vida. E, infelizmente, a depender de alguns fatores (como a região em que mora, por exemplo), os danos podem ser severos, o que inclui riscos à vida. Isso começa a ser entendido quando vemos que, no Brasil, o El Niño altera a distribuição das chuvas, promovendo secas no Norte e no Nordeste e chuvas em excesso ao Sul e Sudeste do país. Saca só no vídeo abaixo a explicação do fenômeno:
Pronto! Agora já podemos dizer que esse ano a estação mais fria será influenciada pelo El Niño, o que indica a tendência de um inverno menos rigoroso. Alguns cientistas dizem, inclusive, que pode rolar uma parada diferente (e preocupante!). É que diante do quadro de emergência climática, há possibilidade de um Super El Niño, caracterizado pela elevação da temperatura em até 2,5ºC em alguns lugares, o que pode trazer severas consequências como explicado pelo professor Paulo Artaxo:
Importante sublinhar que entre a comunidade científica não há consenso sobre a intensidade do El Niño, conforme salientado aqui. Mas é necessário se atentar que, a depender da combinação de fatores, os impactos podem ser avassaladores.
Diante dos preocupantes efeitos da emergência climática em um fenômeno (natural) como o El Niño, separamos mais materiais para expandir as reflexões:
Entrevista realizada com com Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima e integrante do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e com o biomédico fisiologista Daniel Mendes Filho:
Nas discussões sobre a questão climática, é comum nos depararmos com termos como “desenvolvimento sustentável”, “capitalismo verde”, “bioeconomia”, entre outras tantas, que se apresentam como soluções miraculosas. No entanto, não podemos perder de vista que tais expressões representam a ecologização do capital conforme postula Julio Cesar Pereira Monerat em sua tese de doutoramento defendida em 2020. Abaixo, além do trabalho do citado pesquisador, separamos outros materiais para leitura:
Lula diz que combate à desigualdade deve ter 'tanta prioridade' quanto questão climática
“A emergência climática é a história do colonialismo e do capitalismo”
Mudança climática deve aumentar frequência de fumaça sobre cidades
Clima extremo: recorde de calor no noroeste dos Estados Unidos e do Canadá
Como o capitalismo associa-se às mudanças climáticas?
Greta Thunberg critica discurso vazio de países sobre crise climática
Chuvas intensas em São Paulo são sintomas do agravamento das mudanças climáticas
Por que o negacionismo climático ainda prospera online?
Agronegócio e extrema direita impulsionam máquina de fake news sobre aquecimento global
Agronegócio desmatou “51 mil campos de futebol” de vegetação nativa no cerrado baiano
Outra dica é conferir o podcast Tempo Quente. Espia só o trailer:
Para ver completo é só clicar aqui. Destacamos o episódio O agro é punk que realça nexos entre agronegócio e degradação do meio ambiente.
Cerrado em Quadrinhos por Alves (@cerradoquadrim):
Crise climática global forçará mais migrações e deslocamentos humanos
Justiça climática e racismo ambiental: por que precisamos falar cada vez mais sobre isso?
Como visto, outra grave questão associada às mudanças climáticas diz respeito ao racismo ambiental, tema amplamente pesquisado por Diosmar Filho, geógrafo e pesquisador da Associação de Pesquisa Iyaleta. Para conferir entrevista concedida por ele, clique aqui.
Vale ler também: Racismo ambiental é conceito pouco usado na Universidade para analisar desigualdades
Tal assunto é tratado na nossa edição de outubro de 2022:
Vale rever ainda a edição em que também falamos de música e reunimos materiais sobre um elemento que tem tudo a ver com o clima: a água.
Além do recorte racial, torna-se imprescindível discutir como a emergência climática afeta as mulheres de maneira diferenciada, tal qual discutem as reportagens abaixo:
Já que citamos Vivaldi, escolhemos composição dele para finalizara edição. Talvez fosse esperado que selecionamos o movimento dedicado ao inverno, mas, infelizmente, a parte sobre o verão combina mais. Até a próxima!
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Créditos:
Pesquisa, desenvolvimento e redação: Gabriel Merigui e Higor Mozart
Coordenação: Higor Mozart
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2023)
Imagens: Astronauta: Freepik; Cerrado em Quadrinhos: Alves
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