The Dark Side of The Moon & Another 'BRICS' in The Wall
Alunissagem. Estávamos guardando essa palavra para usar em algum momento especial. Ou melhor: em um momento espacial. E ele chegou. É que em agosto a Índia fez uma alunissagem inédita: se tornou o 1º país a pousar no polo sul da lua a partir de nave não tripulada.
Este feito histórico – que envolve interesses militares, geopolítica, economia, ciência e tecnologia – nos leva diretamente à Guerra Fria e sua corrida espacial. André Roberto Martin, professor de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, reflete sobre tal contexto:
“Foi um momento em que percebeu-se que o aspecto espacial era muito importante para haver uma liderança militar, de modo que a corrida espacial, no fundo, é apenas um estratagema para se obter uma vantagem tecnológica e militar sobre as outras potências” (Fonte: Jornal da USP).
Se quiser se informar sobre as incursões no espaço, separamos alguns materiais:
Como a Índia se tornou o 4º país do mundo no 'clube de elite' das nações que pousaram na Lua
Nova corrida espacial continua concentrada nas mãos das maiores potências
E enquanto preparávamos essa edição, a Índia lançou satélite com o objetivo de estudar o Sol.
Se quiser, veja também a edição em que abordamos o telescópio James Webb e o racismo e machismo na corrida espacial:
The Dark Side of the Moon?
Embora não seja a mais precisa, a expressão “o lado escuro da lua” é muitas vezes empregada para se referir ao polo sul lunar, seja em músicas, poemas e histórias. Essa licença poética é a deixa para a gente indicar este texto que fala sobre a denominação mais adequada.
Tragédia em Alcântara
Ao mesmo tempo em que mencionamos o inédito feito indiano, lembramos que o maior desastre espacial brasileiro completou 20 anos. Na ocasião, a explosão do foguete que decolaria da Base de Alcântara (MA) matou 21 pessoas.
Novos voos
Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, estava em uma reunião do BRICS, na África do Sul, quando parou os trabalhos para acompanhar o pouso do módulo lunar Chandrayaan-3. Na ocasião, ele declarou: "o céu não é o limite".
E quem também está alçando novos voos é justamente o BRICS que a partir 1º de janeiro de 2024 passará a contar com novos membros. São eles: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia. E vamos te contar: havia mais de 40 interessados em fazer parte do grupo. Partiu ver algumas questões relacionadas à expansão:
Another ‘BRICS’ in The Wall
O trocadilho que faz parte do nome desta edição não é circunstancial. Trata-se de uma alusão ao estudo que Jim O'Neil, economista-chefe da Goldman Sachs, publicou em 2001 para falar sobre economias consideradas promissoras. O título do artigo era “Building Better Global Economic BRICs”; algo como “Construindo uma melhor economia global BRICs”, em que BRICs brincava com a palavra “bricks” (tijolo).
Anos depois, entre 2006 e 2009, representantes dos países que compunham a sigla passaram a se articular e decidiram se reunir de maneira oficial para estreitar as relações. Nascia daí um grupo de países com interesses em comum1.
Na época, quando o acrônimo foi criado, o “s” era grafado em minúsculo, pois os países integrantes eram Brasil, Rússia, Índia e China. A expressão, cunhada por O'Neil, se modificou em 2011 quando a África do Sul/South Africa se juntou ao quarteto inicial.
Para conhecer mais sobre o tema recomendamos um episódio do podcast Chutando a Escada. Nele, Ana Garcia – professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e diretora do BRICS Policy Center, analisa a recente expansão:
Ouça também o episódio que o podcast Geografia em Meia Hora dedicou ao tema:
No Xadrez Verbal, a discussão sobre o BRICS começa em 03:16:50, mas vale a pena ouvir todo o programa:
Mais informações:
“Novo BRICS explode ordem internacional”. Entrevista com José Luís Fiori
Para Amorim, amplo interesse na reunião do BRICS é sinal de “afirmação global”
Expansão do Brics aumenta potencial econômico e geopolítico […], mas com questões éticas a reboque
Como Lula usa o BRICS para obter uma vaga no Conselho de Segurança
Brics ganha peso geopolítico e econômico, mas enfrenta contradições
Bretton Woods, dólar e protecionismo
Aproveitando o assunto, vale lembrar que tem se veiculado a possibilidade de criação de uma moeda do BRICS. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, parece ser um dos mais favoráveis à ideia, pois com frequência tem manifestado descontentamento diante do domínio do dólar nas transações comerciais internacionais. Tal característica, lembra o mandatário, guarda relação direta com Bretton Woods. Para ler sobre esse conteúdo separamos os materiais abaixo:
Outra crítica reincidente do presidente tem sido endereçada ao protecionismo da União Europeia, conforme apontado aqui. Mais recentemente ele tem falado também em neocolonialismo verde.
Money
Já que essa edição está recheada de referências ao Pink Floyd, bora resgatar uma música do álbum The Dark Side of The Moon. Trata-se de Money que serve de pano de fundo para a gente indicar a edição em que falamos do Antropoceno Capitaloceno. Para rebobinar, só clicar aqui.
Que país é esse?
Nos dias 9 e 10 de setembro rolou a reunião do G20. Esse ano o encontro foi em Bharat. Mas que país é esse? Dica: não se trata de um novo país. Já até falamos dele aqui no início dessa edição. Isso mesmo que você está pensando: o encontro rolou na Índia. Mas por qual motivo grafamos Bharat ali acima? Fizemos isso só para lhe contar que no convite para o jantar do G20, a presidente indiana, Droupadi Murmu, estava referenciada como "Presidente de Bharat", detalhe que alimentou discussões sobre uma possível troca de nome.
No entanto, o país já se chama Bharat (!), sendo esta a denominação em hindi, enquanto India (assim mesmo, sem o acento) é a designação em inglês. Ou seja: as variações seguem os idiomas oficiais utilizados pelo governo indiano. A escolha por uma versão ou outra está relacionada à questões ideológicas.
Para compreender melhor essa história, que entrelaça descolonização, disputas políticas, nacionalismo hindu, apagamento das raízes muçulmanas, entre outros aspectos, recomendamos este fio do Felipe Figueiredo (Xadrez Verbal) e também esta reportagem.
Já que o assunto é a Índia, relembramos que estamos falando do país mais populoso do mundo, conforme mencionamos aqui:
Abya Yala
Ainda abordando nomes e colonialidade, salientamos que “Abya Yala vem sendo usado como uma autodesignação dos povos originários do continente como contraponto a América”, conforme pontuou o saudoso Carlos Walter Porto-Gonçalves. Para se inteirar dessa discussão, recomendamos o seguinte texto do geógrafo: Entre América e Abya Yala – tensões de territorialidade. No texto, você verá também que o nome utilizado pelos indígenas para designar o Brasil era outro.
Destaques da cúpula do G20
Falando em nomes, se você quiser se informar sobre a sopa de letrinhas números que envolve o G20, G8, G7 e G77, bora clicar aqui, aqui e aqui.
Ah, e claro, vem ver também algumas repercussões da reunião realizada em Bharat/Índia :
No G20, Lula cobra recursos de países ricos contra aquecimento global
“Mundo normalizou o inaceitável”, critica Lula sobre desigualdade
Favelas desaparecem da capital indiana antes da cúpula do G20
Brasil recebe presidência do G20 e propõe força-tarefa contra fome
Carlos Walter Porto-Gonçalves
Carlos Walter, presente! Aduff lamenta morte do professor e militante da UFF
Nota de pesar pela partida de Carlos Walter Porto-Gonçalves
Nota de homenagem – Carlos Walter Porto Gonçalves
A Geografia está em luto. Viva a Geografia!
Créditos:
Pesquisa, desenvolvimento e redação: Gabriel Merigui e Higor Mozart
Coordenação: Higor Mozart
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2023)
*As indicações de materiais não significam, necessariamente, endosso, mas sim sugestões que consideramos válidas para o debate. Os conteúdos dos artigos, reportagens, vídeos, podcasts e demais mídias veiculadas é de inteira responsabilidade de seus autores e autoras.
Versão web: noticiasdoespaco.substack.com
Vale enfatizar: um grupo e não um bloco econômico. Afinal, não há elementos que o caracterize enquanto tal.