Ô Josué, eu nunca vi tamanha desgraça
Olá, terráqueo(a)!
É com muita alegria que lhe recebemos. Seja muito bem-vindo(a) e já vá se acomodando. Sente-se naquele banco ali enquanto lhe contamos que através da newsletter Notícias do Espaço divulgaremos notícias sobre…o espaço! Olha só, que surpresa! Por essa você não esperava, não é mesmo? Ainda bem que você estava sentado! Mas e se a gente contar que aqui você não vai ver, necessariamente, um boletim sobre astros, planetas, OVNIS, asteróides e criaturas extraterrestres? Pois é, aí sim fomos surpreendidos novamente!
O nosso foco está nas informações que nos ajudam a pensar sobre o espaço fruto das relações entre sociedade e natureza. É por isso que você verá assuntos vinculados à população, agricultura, geopolítica, cidades, energia, cultura, economia, solos, clima e tudo mais que nos ajudar a pensar sobre o espaço geográfico. O que inclui, até mesmo – por que não? – viagens ao…espaço. Bora, viajar com a gente?
Ah, espera, espera! Que mal educados. Antes precisamos nos apresentar e dizer que esse é um projeto de extensão vinculado ao Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais ( Edital 01/2022). A equipe é formada por Maria Phernanda da Silva Soares (estudante do 3º ano do Curso Técnico em Eletrotécnica integrado ao Ensino Médio) e pelo professore de Geografia Higor Mozart (coordenador do projeto), vinculado ao Campus Muriaé.
A nossa esperança é de que os materiais aqui reunidos possam contribuir para reflexões espaciais entre estudantes, docentes e quem mais se interessar.
Vem com a gente!
Se topar, é só deixar seu email no campo abaixo : )
Partimos em 3, 2, 1…
“Ô Josué, eu nunca vi tamanha desgraça / Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”
Os versos acima, da música Da Lama ao Caos (Chico Science & Nação Zumbi), infelizmente seguem a ilustrar triste realidade que nos últimos tempos assumiu feições ainda mais dramáticas. Atualmente a fome atinge 33 milhões de pessoas no Brasil e cerca de 60% da população do país apresenta algum nível de insegurança alimentar como reportado aqui e aqui. Diante da magnitude desses números, nessa edição do notícias do espaço, separamos materiais que nos ajudam a refletir sobre a temática.
Começamos indicando o episódio Fome do podcast “Palavra da Semana”, do Jornal da USP. Para conferir, é só clicar aqui. Outra dica é ouvir o programa da Rádio UFMG Educativa:
Já essa pesquisa do IBGE revelou que o mapa da fome no Brasil tem raça, gênero e classe. Na matéria Fome, substantivo feminino é destacado que “numa realidade mal retratada pelas estatísticas, mulheres deixam de comer para alimentar os filhos pequenos enquanto driblam a violência dentro e fora de casa”. E muitas dessas mulheres, em situação de insegurança alimentar, são negras.
Falando em insegurança alimentar, na visão do geógrafo José Raimundo Ribeiro tal expressão não passa de “um eufemismo para a fome”.
Conceituações sobre essa e outras expressões podem ser acessadas nestes dois materiais:
Como denunciado pela Nação Zumbi, “a fome tem uma saúde de ferro / Forte, forte como quem come1”. Não por acaso, essa outra reportagem dá a letra: “A fome não espera: são necessárias políticas públicas, além do assistencialismo”.
Veja também:
Recordes no agronegócio e aumento da fome no Brasil: como isso pode acontecer ao mesmo tempo?
Mundo produz comida suficiente, mas fome ainda é uma realidade
Linha do tempo: O direito humano à alimentação no mundo e no Brasil
Fome avança no Brasil em 2022 e atinge 33,1 milhões de pessoas
'Não se priorizou o combate à fome no Brasil', diz representante da FAO no país
Estamos caminhando, mas até agora não falamos sobre quem é o Josué mencionado nos versos que abrem esse texto. Você o conhece? Bem, caso não conheça, o papo é reto: ele foi um geógrafo, sociólogo, médico, cientista social, político, escritor e ativista brasileiro que se dedicou arduamente ao combate à fome.
Separamos indicações que falam sobre seu legado:
Josué de Castro: o homem, o cientista e seu tempo, por Manuel Correia de Andrade
Filme: Josué de Castro - Cidadão do Mundo (1994), do diretor Silvio Tendler:
Temos o próprio Chico Science falando do impacto que Josué de Castro teve em sua obra:
Chico Science associou a cena musical da qual ele, a Nação Zumbi e outras bandas faziam parte ao ecossistema encontrado em Recife, o mangue. Batizava-se, assim, o movimento manguebeat que ganhou até um manifesto escrito em 1992 pelo músico e jornalista pernambucano Fred Zero Quatro, fundador da banda Mundo Livre S/A. Desse manifesto, chamado Caranguejos com Cérebro, destacamos duas passagens que guardam relação direta com questões espaciais:
“Mangue, o conceito
Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.
Manguetown, a cidade
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade *maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de *progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano”.
Seguindo na temática sobre a fome, recordamos Hebert de Souza, o Betinho, criador de uma das maiores ONGs de combate à fome no Brasil. Seu legado é revisitado no podcast O Assunto #735.
Outro nome que sublinhamos é o da médica, pediatra e sanitarista brasileira Zilda Arns que encampou ferrenha luta contra à mortalidade infantil e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Em texto escrito por Frei Betto, é possível acompanhar um pouco de sua trajetória: O legado da Dra. Zilda Arns
Mencionamos também a escritora Carolina Maria de Jesus que abre seu Quarto de Despejo de maneira dilacerante:
“15 de julho de 1955 - Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar”.
O trechinho final, quando Carolina Maria de Jesus relata ter achado um par de sapatos no lixo, nos remete ao curta-metragem Ilha das Flores, lançado em 1989, dirigido por Jorge Furtado e produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre. Se você não conhece, vale muito a pena ver. Se já conhece, vale a pena rever. Vale só lembrar que o conceito de família apresentado no curta é ultrapassado. Bora clicar aqui e refletir.
Mais dois textos sobre o Carolina Maria de Jesus:
A fome como política de morte, o Brasil como um quarto de despejo
'Até o feijão nos esqueceu': o livro de 1960 que poderia ter sido escrito nas favelas de 2021
Se tiver oportunidade, leia essa e outras obras dessa escritora que vai muito além do Quarto de Despejo.
“… Quando eu fui almoçar fiquei nervosa porque não tinha mistura. Comecei ficar nervosa. Vi um jornal com o retrato da deputada Conceição da Costa Neves, rasguei e puis no fogo. Nas epocas eleitoraes ela diz que luta por nós”. Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Da edição Tá na mesa, pessoal, da newsletter Surra de Ref, separamos duas indicações:
Deserto alimentar: Comida saudável mesmo é comida de verdade. Mas quem tem acesso a ela?
O rapper Emicida, no episódio inaugural do Podcast AmarElo Prisma - Movimento 1: Paz/Corpo, apresenta reflexões envolvendo corpo, natureza, alimentação e dinheiro. Dá o play aqui.
O agro é…punk
Recomendamos o episódio O agro é punk do Podcast Tempo Quente, produzido pela Rádio Novelo:
Sobre esse assunto destacamos a reportagem Uma radiografia das “cidades do agronegócio” e dois textos de “O Joio e o Trigo”:
Ah, quando tiver um tempinho, dá o play no episódio O que o Milton Santos diria do iFood? do podcast Prato Cheio.
Falando em Milton Santos, saca só esses materiais sobre ele:
Milton Santos: do Vautrin-Lud ao Google Doodle
Biografia - site oficial
O plano de Thanos
“Vocês costumavam dormir com fome, lutando por restos. Seu planeta estava à beira do colapso. Eu parei tudo isso. Sabe o que acontece agora? As crianças aproveitam céus claros de barriga cheia. É um paraíso”.
A frase acima dita pelo personagem Thanos nos lembrou das teorias demográficas sobre o crescimento da população mundial e a disponibilidade de alimentos. Se você não estiver muito familiarizado com tais teorias ou com as ideias desse vilão do universo cinematográfico, clica na imagem abaixo e deixa a magia acontecer.
Se falamos de Thanos, não podemos deixar de mencionar ele: Thomas Robert Malthus. Ouve só esse podcast aqui do Minas Faz Ciência: Um conto sobre o crescimento da população.
Prefere vídeo? Aqui temos um para você ficar ainda mais expert na teoria malthusiana.
Se quiser ler sua obra original, só clicar no link em azul: “Princípios de Economia Política e Considerações Sobre sua Aplicação Prática”.
Dia mundial do refugiado
20 de Junho marcou o dia mundial do refugiado e por isso destacamos links sobre o assunto:
Dia do refugiado: Saiba quais são as crises de deslocamento forçado mais negligenciadas do mundo.
Indígenas venezuelanos no Brasil já somam mais de 7 mil pessoas, sendo 819 reconhecidas como refugiados
Podcast “O Coração do Mundo”
“O Coração do Mundo é a segunda temporada do Projeto Humanos. Composta por 14 episódios, buscou contar histórias de brasileiros e refugiados que se envolveram com conflitos no Oriente Médio, desde o 11 de Setembro até a Guerra da Síria”.
Para ouvir, clique aqui.
Ao falar em deslocamentos populacionais, ressalta-se que pobreza, fome e turbulência política tem levado ao aumento de migrações na América Latina.
E, agora, no final de junho, infelizmente houve “a morte de ao menos 51 pessoas sufocadas em um caminhão na cidade de San Antonio, no Texas, na fronteira Sul dos Estados Unidos”.
Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+
Em 28 de junho ocorreu o Dia Internacional Orgulho LGBTQIAP+ e por isso neste link separamos uma linha do tempo sobre os direitos LGBTQIAP+ no Brasil e no Mundo e nesse outro um histórico focado nas Políticas no território brasileiro.
50 anos de Stonewall: “quando amar virou um ato de desafio”
Podcast Todas as Letras
Seleção primorosa de histórias sobre a população LGBTQIAP+ feita pela Agência Pública:
Se pouco se debate sobre o envelhecimento na sociedade, imagine sobre o envelhecimento da população LGBTQIAP+ ? Esse é o ponto de partida da entrevista realizada pelo médico Drauzio Varella com Milton Crenitte (médico gerontologista e coordenador do Ambulatório de Sexualidade da Pessoa Idosa). Tema pra lá de importante. Confere aí:
Indicações do Notícias do Espaço
Para finalizar essa edição, indicamos dois projetos. O primeiro deles é o Infocast, voltado à Educação Midiática e Combate à Desinformação, sob coordenação do professor Rone Santos do IF Sudeste MG (Campus Muriaé). Os materiais produzidos pela equipe podem ser acompanhados aqui e aqui. Tem podcast, meme, artigo e tudo mais para lutar contra a enxurrada de desinformação. Na temporada passada falaram sobre pandemia e, na atual, são abordados assuntos variados que podem ser atingidos por fake news. Ah, e além disso, há atenção especial para o trabalho de educação midiática. Siga lá, que tá sensacional!
Destacamos também a newsletter Saravá, referências pretas! que trata sobre questões étnico-raciais, com ênfase na população negra. Para acessá-la, basta clicar na imagem abaixo. Aproveite e se inscreva!
Para finalizar, voltamos ao início ao som de Chico Science & Nação Zumbi em Da Lama ao Caos:
Muito obrigado por nos acompanhar. Valeu mesmo!
Se puder, nos ajude, por favor, a espalhar notícias do espaço por aí. Clique abaixo e compartilhe com algum conhecido.
Essa edição é dedicada à Bruno Pereira e Dom Philips e a todas outras(os) lutadores e lutadoras sociais.
Caso queira fazer críticas/sugestões, nos escreva, por favor, em projetonoticiasdoespaco@gmail.com ou deixe um comentário ao final dessa página : )
Até a próxima!
Créditos:
Pesquisa, curadoria, desenvolvimento e redação: Maria Phernanda e Higor Mozart
Divulgação: Maria Phernanda
Logotipo Notícias do Espaço: Higor Mozart
Imagens utilizadas: Astronauta 1; Astronauta 2; Caranguejo; Thanos.
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 01/2022) | Projeto “Além dos Pares: a Pesquisa na Sala de Aula”.
Coordenação: Higor Mozart
*As indicações de materiais não significam, necessariamente, endosso, mas sim sugestões que consideramos válidas para o debate. O conteúdo dos artigos, reportagens, vídeos, podcasts e demais mídias veiculadas é de inteira responsabilidade de seus autores e autoras.
Parabéns a todos que participam desse projeto. Está muito bem feito, organizado e embasado. Realmente, um trabalho incrível! Sensacional, Higor! Só conteúdo de qualidade!
Que maravilha! 👏👏👏 Parabéns a vocês pelo belíssimo projeto. Estarei sempre aqui "pelo espaço", uma fonte de informações atualizadas e com muita diversidade sobre as múltiplas vertentes da Geografia.