Que preguiçaaaaa!
Imagine uma preguiça-gigante. Não, não estamos falando de uma falta de ânimo gigantesca para realizar alguma atividade. Estamos falando de um bicho preguiça que pode chegar até seis metros de comprimento e cerca de quatro toneladas! Agora imagine o tamanho da toca cavada por um bichão desses. E sabe o que é mais legal? Um sítio pré-histórico, no alto da Serra do Gandarela, em Caeté (MG), abriga uma toca dessas. Ou melhor: uma paleotoca, nome usado para se referir às cavidades esculpidas por esses grandes animais. A paleotoca descoberta no Gandarela – e localizada em propriedade da mineradora Vale – tem 340 metros, o que a torna a maior já encontrada em terras mineiras.
As paleotocas são valiosas chaves para se entender o passado. Uma das hipóteses dos pesquisadores é a de que esses animais de grandes proporções não se adaptaram às mudanças que rolaram com o fim da Era do Gelo. Diante de notória relevância ambiental, científica e cultural, a Justiça em Minas Gerais proibiu que a Vale, o Estado e o Município de Caeté executem atividades que comprometam a área. No entanto, a citada mineradora recorreu da decisão.
“No mapa da Vale, a paleotoca seria uma pedra no meio do caminho […] (Ferdinando Silva; Projeto Manuelzão)
Abaixo destacamos vídeo em que o Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela reúne informações sobre a importância da paleotoca e as ameaças trazidas pela mineração:
🦥 Mais informações sobre a Serra do Gandarela:
Conflitos ambientais na Serra do Gandarela, Quadrilátero Ferrífero - MG: mineração x preservação
Uma história de resistência no coração da mineração brasileira
O conflito sobre a Serra do Gandarela: uma análise deliberativa sistêmica
Notícias e fontes sobre os impactos da mineração:
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Vídeos e podcasts
Amazônia Sem Garimpo (narração em português; narração em yanomami):
🎧 Podcast: CAVA - mineração em debate:
🎞️ Teaser do documentário de curta-metragem "Bauxita", de Thamara Pereira, acerca dos conflitos da mineração em Belisário, distrito de Muriaé (MG), Zona da Mata mineira:
Sites de referência
PoEMAS - Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade
Mapa dos Conflitos envolvendo injustiça ambiental e saúde no Brasil
Mapa dos Conflitos - Uma década de violência e injustiça fundiária na Amazônia Legal
Textos acadêmicos
Bio(necro)política da mineração: quando o desastre atinge o corpo-território
Minas Esgotada - Antecedentes e impactos do desastre da Vale na Bacia do Paraopeba
Mineração no Brasil: por um debate amplo sobre a captura das rendas minerais
Ordenamento territorial da mineração no Brasil e conflitos ambientais
Violência da Mineração e do Garimpo sobre os Povos do Campo no Brasil
Drummond
Fonte: O Cometa Itabirano, nº 58, dezembro de 1983.
The Eras Tour
A nossa edição anterior tem tudo a ver com a de hoje, confere lá:
The Eras Tour: Chapada do Araripe
Cariri Histórico. Este é o nome da reportagem seriada veiculada no Jornal O Povo (OP+) que recebeu o Prêmio BNB de Jornalismo na categoria Nacional, Projeto Multimídia. Divida em três partes, o trabalho explora os laços entre o Cariri e o passado paleontológico e arqueológico da Chapada do Araripe. Tá muito massa! Tá esperando o que? Bora lá ler as três reportagens:
Fonte: OP+
E não para por aí! Além das reportagens, rolou a produção do documentário Cariri Pré-Histórico e três episódios de podcast: Desvendando mitos ancestrais do Cariri; O valor do patrimônio do Cariri; Como gerir um patrimônio?
O Retorno de Ubirajara
Não estamos falando de um filme. Mas sim de uma “novela” daquelas que envolvem contrabando. É que ao mencionar o Cariri ali acima, lembramos de Ubirajara jubatus que viveu lá há 100 milhões de anos. Seu fóssil, que foi levado irregularmente para a Alemanha, finalmente retornou ao Brasil. Acompanhe as cenas dessa novela de mau gosto que, ao menos, terminou com final ok:
🎧 Para ouvir:
Por falar nisso, notícia quentinha: o fóssil do Venetoraptor gassenae, réptil que viveu há 230 milhões de anos, foi descoberto lá no RS.
Leia também:
Fóssil achado em caverna indica preguiça gigante na Era do Gelo na Amazônia
Arqueóloga brasileira revolucionou a história com descobertas na Serra da Capivara
A Preguiça-gigante
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Obrigado pela atenção; nos despedimos com um poema de Drummond. Até a próxima!
Canto Mineral
(excertos)
Minas Gerais
minerais
minas de Minas
demais,
de menos?
minas exploradas
no duplo, no múltiplo
sem-sentido,
minas esgotadas
a suor e ais,
minas de mil
e uma noites presas
do fisco, do fausto,
da farra; do fim.
(...)
(Ai, que me arrependo
— me perdoa, Minas —
de ter vendido
na bacia das almas
meu lençol de hematita
ao louro da estranja
e de ter construído
filosoficamente
meu castelo urbano
sobre a jazida
de sonhos minérios.
Me arrependo e vendo.)
(...)
Do rude Cauê,
a TNT aplainado,
resta o postal
na gaveta saudosista,
enquanto milhares
milhafres
de vagões vorazes
levam para longe
a pedra azul guardada
para tua torre
para teu império
postergado sempre.
(...)
Minas, nos ares,
Minas que te quero
Minas que te perco
e torno a ganhar-te
com seres metal
diluído em genes,
com seres aço
de minha couraça,
Minas que me feres
com pontiagudas
lascas de minério
e laminados de ironia,
vês?
No coração do manganês
pousa uma escritura
de hipoteca e usura
e o banco solerte
praticando a arte
do cifrão mais forte.
(...)
(Carlos Drummond de Andrade)
Créditos:
Pesquisa, desenvolvimento e redação: Gabriel Merigui e Higor Mozart
Coordenação: Higor Mozart
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2023)
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