Voltamos a ter Censo!
Primeiros resultados do Censo, população LGBTQIAPN+, déficit habitacional, concurso fotográfico do IBGE, Fany Davidovich e Pedro Geiger
Olá,
Após muitos atrasos e percalços, no último dia 28 de junho, foram divulgados os primeiros dados do Censo Demográfico de 2022. O tema já foi abordado aqui na edição intitulada “Amarildo dos Santos não está mais só”. Vale a pena conferir ;)
Sem mais delongas, bora ver alguns resultados? Eu sei que você veio aqui para isso!
Lembra que na nossa edição sobre a população mundial dissemos que no planeta Terra SÓ há você + 7.999.999.999 pessoas? Pois é, agora, diante dos dados do Censo 2022, podemos dizer que nesse Brasilzão é você + 203.062.511 habitantes.
Apesar do aumento de 12,3 milhões em relação à 2010, a taxa de crescimento anual foi de 0,52%, a menor já registrada nos últimos 150 anos, tendência que já era esperada, tendo em uma vez que desde o final da década de 1960 observa-se uma redução da taxa de fecundidade.
A marca de 203 milhões está abaixo da projeção de 207,8 milhões feita pelo IBGE. A justificativa, segundo o órgão, está relacionada ao atraso e à inexistência de uma contagem populacional que deveria ter sido realizada em 2015. Especialistas indicam a necessidade de análises mais aprofundadas.
Os dados mostram que estamos passando por uma transição demográfica, com a redução da taxa de fecundidade, aumento da expectativa de vida e consequente envelhecimento da população. No momento, o Brasil tem um número de pessoas aptas a trabalhar1 maior do que o de idosos aposentados e de crianças. Este é o chamado bônus demográfico, que traz oportunidades do ponto de vista socioeconômico, por conta da força ativa para o trabalho. No entanto, o não aproveitamento de tais oportunidades, traz sérias consequências, conforme discutido aqui.
Para expandir a discussão, indicamos a entrevista concedida por José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e pesquisador aposentado do IBGE. Em sua análise, ele disserta sobre os primeiros resultados do “Censo possível” e sobre a ideia de bônus demográfico.
Não deixe de ler também o artigo “Bônus demográfico no Brasil: do nascimento tardio à morte precoce pela Covid-19” do citado demógrafo. Outra dica é conferir a análise que José Eustáquio Diniz Alves empreende sobre o bônus demográfico a partir de recorte de gênero. É só clicar aqui.
Como estão distribuídos os mais de 203 milhões de brasileiros?
A Região Sudeste continua sendo a mais populosa do país, concentrando cerca de 41,8% da população. Segue o ranking dos 5 estados mais populosos, que concentram mais da metade da população total do Brasil:
Uma dica é conferir este infográfico que permite ver a "corrida" entre os estados ao longo do tempo.
Agora falando de cidades: com quase 11 milhões, São Paulo segue sendo a mais populosa do país. Isso é quase o dobro do número de moradores do Rio Janeiro, segunda colocada. Observa-se uma queda populacional em algumas capitais, enquanto cidades médias têm alavancado o crescimento no país.
Arte/Agência Brasil
E onde está a cidade menos populosa? A resposta está lá no Centro-Oeste de Minas, em Serra da Saudade.
E como está onde você mora? Se ainda não conferiu, corre e clica aqui para pesquisar. Aí houve aumento ou retração da população?
Ah, e a cidade com menor densidade demográfica é Taboão da Serra em São Paulo.
Fonte: Helena Pontes/Agência IBGE Notícias
O IBGE faz o recenseamento da população domiciliada, no entanto, há em algumas cidades iniciativas voltadas à população que vive nas ruas, como demonstram estes links:
População em situação de rua cresce 110% e passa de 800 pessoas em Juiz de Fora, aponta novo Censo.
População em situação de rua de BH aumenta 192% em oito anos
Censo da UFMG aponta crescimento da população de rua em São Paulo
De acordo com estimativa realizada pelo IBGE, ainda antes da pandemia, 220 mil eram as pessoas vivendo nas ruas do país. Já de acordo com estimativa do IPEA, em estudo divulgado em 8/12/22, o número chegaria a 281.472 pessoas (a título de comparação, em 2012 as dados informavam a marca 90.480, o que indica um crescimento de 211% em 10 anos)
Diretamente atrelado a isso, outro dado a se ressaltar é a existência de 11 milhões de casas e apartamentos vagos no Brasil, número que é o dobro do déficit habitacional no país. Na capital mineira, por exemplo, “imóveis vazios equivalem a 20 vezes a população em situação de rua na cidade”. Em São Paulo, os domicílios vazios também superam o déficit populacional.
Sobre tais questões, lembramos das lutas do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - a partir da pergunta: “Por que ocupamos?”
Se quiser, leia e ouça também:
População que vive nas ruas segue invisível nas estatísticas oficiais do país
‘O espaço tornou-se inacessível para a vida porque foi destinado para a renda’...
Moradia própria ainda é uma realidade distante para a população negra
Onde está Amarildo?
Como você sabe, a nossa primeira edição sobre o Censo falava de Amarildo dos Santos, ex-professor que por conta própria realiza o Censo de Igatu (povoado de Andaraí, na Chapada Diamantina - BA) desde 1994. No entanto, é inevitável não lembrar de outro Amarildo, o Dias de Souza. Já são 10 anos sem respostas! Afinal, “onde está Amarildo?”.
O primeiro Censo
Fonte: IBGE
O primeiro Censo no Brasil foi realizado em 1872 pela Diretoria Geral de Estatística. Os dados registrados apresentam o retrato de um país escravocrata, como demonstra esta reportagem.
Neste link é possível ver as diferenças no que diz respeito à distribuição da população entre 1872 e 2022. Dê uma olhada e veja qual era o estado mais populoso à época.
Por falar nisso, o IBGE lançou a série Censos do Brasil em podcast. Trata-se de um projeto que através dos 12 episódios percorre questões históricas e curiosidades relacionadas a cada um dos recenseamentos realizados no país nos últimos 150 anos. Não precisa pedir. O primeiro episódio tá aqui para você:
Para ouvir tudo, é só clicar aqui.
Leia também:
Mais materiais para você se informar:
Entre 2020 e 2022, taxa de crescimento da população foi metade da registrada na década anterior
Como é a vida no município brasileiro onde a população mais cresceu
Censo teve taxa de não resposta de 4,23% dos domicílios; taxa de recusa ficou em 1,38%
🎧 Censo 2022 fez diagnóstico de toda uma década, apesar da negligência do governo anterior
🎧 Sociedade em Foco #154: Censo demográfico é essencial para pensar em políticas públicas efetivas
Número de domicílios salta 34% em 12 anos no Censo, número médio de morador por habitação recua
Como a pirâmide etária do Brasil mudou ao longo das gerações
População LGBTQIAPN+
Além da divulgação dos primeiros dados do Censo, tivemos no último 28 junho um motivo muito importante para comemorar e refletir. E esse motivo tem tudo a ver com questões populacionais. Estamos falando do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. A data foi escolhida em referência ao confronto entre policiais e manifestantes conhecido como “Rebelião de Stonewall”, ocorrida em 1969 em Nova York. Muito se fala sobre Stonewall como um marco fundador, mas vale lembrar que esse não foi o início do movimento LGBTQIAPN+. Há outras experiências anteriores na Argentina e México, por exemplo.
No Brasil, desde 1997, ocorre a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, maior evento do país relacionado à população LGBTQIAPN+. Todos os anos um tema é escolhido para ser debatido e refletido, em 2023 a pauta foi: “Queremos políticas sociais para LGBT+ por inteiro e não pela metade”. Assista o vídeo abaixo para entender a proposta.
Vale lembrar que houve discussões sobre incluir ou não dados sobre a população LGBTQIAPN+ no censo. Ao final, não houve a inserção.
Um recorte muito importante é refletir sobre a população LGBTQIAPN+ a partir das questões raciais. Se liga no episódio SaúDiversidade sobre a População Negra LGBT+
Em uma das nossas últimas edições, falamos sobre a crise humanitária envolvendo refugiados e um assunto pouco mencionado diz respeito aos refugiados LGBTQIAPN+. Muito importante se inteirar da discussão:
Cartilha Acesso à Justiça: População LGBTQIA+. Para baixar, só clicar na imagem abaixo.
Expandindo o tema:
Discriminação na saúde torna pessoas trans suscetíveis a estratégias informais de cuidado
Acesso à saúde no País é limitado pela idade, pelo gênero e pela orientação sexual
Paisagens do Censo
Sabe aquele aparelho usado para coletar as informações do Censo? Eles também servem para tirar fotos! Daí o IBGE organizou um concurso que reúne registros feitos pelos recenseadores. Após passar por uma pré-seleção, as imagens foram divididas em três categorias:
Arte: IBGE
A votação pode ser realizada até o dia 21 de julho. Tá esperando o quê? Bora lá ver as imagens. Só clicar aqui.
Fany Davidovich e Pedro Geiger
Aproveitamos, por fim, para deixar um vídeo sobre dois grandes geógrafos cujas trajetórias se entrelaçam à história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Se liga aí:
Geiger, inclusive, está preparando um novo livro. Nessa reportagem, o geógrafo fala um pouco sobre sua obra e planos.
Até a próxima!
Obrigado por nos acompanhar até aqui. Se puder, nos ajude, por favor, a espalhar Notícias do Espaço : )
Créditos:
Pesquisa, desenvolvimento e redação: Gabriel Merigui e Higor Mozart
Coordenação: Higor Mozart
Financiamento: Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (Edital 02/2023)
Imagens: Astronauta: Freepik.
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PEA (População Econômica Ativa), que inclui tanto quem está trabalhando, como quem está à procura de uma ocupação.